NO ALTAR
Carla Deboni
 
 

Lamentei os últimos versos da cantiga infantil, despedindo-me dos rituais de outrora. O branco das nuvens que dissolviam na boca feito algodão doce agora compõe o vestido que me recobre o corpo e o véu matrimonial em nada se parece com o tapete do quarto, cenário para as brincadeiras de bonecas. Já o buquê, este tem flores não tão frescas e sinto falta do orvalho da manhã e mesmo das folhas já amareladas, caindo ao toque ou simples sopro de vida.

Da marcha nupcial nada sei, agora que os passos não são mais no jardim nem nos degraus junto ao portão. Agarro o braço paterno e é como se voltasse ao primeiro dia de aula e o medo da nova realidade de repente tomasse conta das batidas do coração. Altar ou alterar?

Tudo se dissipa quando eu o vejo esperando para me ter nos braços. Vale a pena? Prefiro não saber do resultado antes de receber a equação. Por enquanto, vou me prender ao sinal de igual.