VALENTIM
Zeca São Bernardo
 
 

Afinal, quem era você?
Do azul de seus olhos frios muito ouvi falar,
Histórias e mais histórias de família.
Alto e esbelto, sempre de mau humor.
Senhor de alguns milhares de pés de café...

Desterrado da distante Alemanha, fugitivo.
Fundo do poço onde se escondeu com a mulher.
Afinal, o que vias de lá?
Enquanto as apressadas e sedentas tropas do Reich
Pisoteavam a terra de uma apavorada Polônia.

Seriam todas as histórias verdadeiras?
Afinal, quem era você?
Pulso firme na lavoura, fazendeiro rico
Homem de posses e influência vasta que
Passava fora das porteiras que demarcavam suas terras.

E, de onde apareceu esse dinheiro?
Estariam todos procurando tesouros e mais tesouros
Nas fronteiras antigas totalmente enganados?

Pela expressão amarga no rosto da mulher sentada
A teu lado neste retrato velho, amarelado, tirado no
Pós-guerra já em terras de caboclos, mulatos e a revelia
Da sorte parece-me que a vida, de fato, não foi fácil...

Traições, afastaram você de sua primogênita.
Traições, como as que dizem que cometeste até muito
Pior as sombras dos carvalhos imensos da Floresta Negra.

Agora que ela, também, se foi quem me contará as histórias
Do temperamental Valentin, meu bisavô, que vejo com o cinto
Torto no velho retrato guardado numa caixa de sapatos velha.