AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ
Valéria Vanda de Xavier Nunes
 
 

Num primeiro momento, este título pode parecer título de um filme antigo ou de enredo de escola de samba. Mas não é nada disso não. As voltas que o mundo dá, diz respeito ao que de fato acontece com as nossas vidas, mostra que realmente a vida anda em círculos e que é em cada uma dessas voltas que os círculos de nossas vidas vão se fechando.

Estamos em outubro de 2007, e faz exatamente um ano que estávamos eu e meu marido enfrentando talvez, os piores dias de nossas vidas. Estávamos nos preparando física e psicologicamente para enfrentarmos uma das ciladas que a vida nos prega. Descobrimos que meu marido estava com um problema sério de saúde e que precisava passar por uma cirurgia. Então, estávamos contando regressivamente os dias que faltavam para enfrentarmos os momentos de ansiedade, de tristeza, de dúvidas e de indecisões que certamente iríamos passar daí por diante. Mas, graças a Deus e a força dos parentes e amigos enfrentamos esses dias com muita fé, confiança, coragem, e estamos hoje aqui firmes e fortes novamente. Foi mais um círculo que se fechou em nossa vida.

Hoje, um ano após, estamos nos preparando novamente e desta vez, "física e esteticamente" para enfrentarmos mais uma aventura. Estamos nos preparando para realizar o nosso sonho de consumo que é fazermos um cruzeiro. Depois de dias de aflição e tristeza esperamos viver momentos de alegria em nosso primeiro cruzeiro marítimo. Estamos agora, como antes, contando os dias regressivamente para vivermos mais esta experiência.

Para marinheiro de primeira viagem como nós e outros mais, a entrada em um navio não deixa de ser um deslumbramento total. A visão daquela imensa embarcação que nos aguardava com tanto luxo era de estarrecer. Mesmo para quem já conhecia os recantos de um navio e um cruzeiro através de inúmeras leituras de livros e romances, como eu, nada se compara à visão de um navio ao vivo e a cores. Os primeiros passos de reconhecimento pelos amplos salões, restaurantes, bares, discotecas, cassinos, teatro e tudo o mais que um navio nos oferece são de êxtase total... Tudo é novidade, parece que estamos num mundo irreal, tudo é fantasia.

Nossa viagem foi maravilhosa em todos os sentidos, tudo foi além de nossas maiores expectativas. Tudo no navio é de uma grandiosidade e beleza singular. Passamos dias de encantamento, de lazer, de repouso, de compras e de felicidade inenarráveis.

Particularmente, eu e meu marido tivemos momentos inesquecíveis de felicidade, já que estávamos comemorando nossos trinta e cinco anos de casamento junto com amigos e em meio a muito "glamour", com direito a champanhe, bolo parabéns e tudo o mais, inclusive uma surpresa preparada pelas nossas filhas e que foi o melhor e maior presente que pais podem receber.

Impossível para todos nós excursionistas, esquecermos as nossas horas de despreocupação a beira da piscina, os nossos almoços descontraídos, nossos arrasta-pés ao som de muito forró e axé, nossas noites no Teatro Òpera,assistindo ao balé perfeito das lindas dançarinas, as proezas do mágico, as vozes maravilhosas dos cantores, as "tiradas" interessante do diretor de Teatro. Impossível esquecermos o glamour de nossos jantares, o conforto de nossas cabines, a solicitude de toda tripulação, a fartura de nossas refeições desde o café da manhã até a última ceia. Como esquecer os meninos e meninas da animação com seus figurinos bizarros, com suas brincadeiras e "pegadinhas" que nos faziam morrer de rir.. È isso aí gente! Não resta a menor dúvida de que o nosso passeio foi deveras interessante e maravilhoso e que vai nos deixar saudosos e mal acostumados.

Enfim, o sonho acabou. Chegou a hora de encararmos a realidade do nosso cotidiano. È verdade que a vida só é boa por que existem essas contradições. A fantasia e a realidade. Momentos bons e momentos ruins. Nada dura para sempre... Nem o sofrimento nem a felicidade, por isso é preciso que saibamos conviver com esses dois sentimentos e aceitar o que vem para nós. Se fosse o contrário talvez a vida se tornasse monótona, só com alegrias ou só com tristezas. É preciso que tenhamos momentos bons e ruins para melhor saber valorizá-los igualmente, senão, a vida não teria graça.

E agora que tudo acabou e a nossa vidinha vai continuar como era, só nos resta sentir saudade de todos os momentos felizes que vivemos e dos novos amigos que fizemos Como diz a música "Tudo nesta vida tem um fim". No entanto espero que nossos laços de amizade não afrouxem e que continuemos de uma maneira ou de outra nos encontrando, e quem sabe num futuro próximo possamos repetir esta "façanha" .