SONHOS NA ESTRADA
Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica
 
 

Saí alta madrugada. A noite se desnudava na estrada qual, uma bela mulher oferecendo os lábios trêmulos de desejo. Minha carreira era mansa. Pois, do outro lado da estrada, alguém me aguardava abrindo os bracinhos, toda a vez que eu chegava e dizia:

"Pai! Paizão! Você voltou!"

A noite era sonâmbula e guardada por toda espécie de lendas. Meu caminhão, brilhante corcel, me trouxera encontros dos mais variados pelos caminhos que andava-mos. Velho companheiro,cortava a estrada a iluminar o asfalto.

Pararia no primeiro restaurante que encontrasse, pois, a fome quando aperta tem um horário rígido. O anúncio brilhava mais adiante. Encostei o caminhão e desci para o restaurante. Uma lareira crepitava um bom calor naquela noite de outono, outros viajeiros ali estavam, sentados nas mesas. Servi minha bandeja e fiz uma lauta refeição leve, pois dirigiria ainda um bom caminho.

Paguei minha conta e fui embora, voltando a estrada.

A lua cobria meus sonhos, a imaginar como seria a vida naquelas estrelas distantes, quando vi um carro encostado. Um casal sinalizava me pedindo que parasse. As estradas, as vezes, nos mantém distantes das pessoas, de tantos casos, que ouvimos por aí. Mas, pensei bem quando passei ao largo, devagar e vi um casal de jovens com olhos esperançosos a pedir ajuda.

"Então? O que houve aí?" Perguntei de minha janela.

"Nosso carro está com o tanque de gasolina vazando e não temos como chegar em casa... "

"Gostariam de uma carona?"

Assim fomos os três pela estrada, eles iriam parar na próxima cidade e de lá, eu seguiria meu caminho.

A curva me fez diminuir mais ainda a direção, quando vi uma mudança: um facho de luz inundava a antiga estrada, segui em frente e senti que o caminhão flutuava na luz. A princípio me assustei olhei para os caronas que conversavam entre si ao meu lado, como se nada de diferente vissem. A estrada de luz me levou adiante da lua. Fui parar numa estrela de cidades bordadas. Meus companheiros então me avisaram que haviam chegado ao seu destino e que iriam descer ali.

Acordei. Pensando estar numa das cidades da estrela, vi que estava ainda no estacionamento do restaurante, aonde devo ter pego no sono por um momento. Nossa! devo ter cuidado para não dormir na estrada. Até que uma companhia me faria bem, poderia-mos ter uma boa conversa e isso me manteria acordado. Escolhi dirigir, se voltasse a sentir sono, encostaria o caminhão a beira da estrada e dormiria um pouco. Por agora meu sono se fora.

Umas luzes me chamaram a atenção.

O brilho das luzes, revelou ser, um carro de patrulha rodoviária. Havia acontecido um acidente, na entrada da próxima cidade e me pediram que dirigisse com cuidado.

A estrada desembocava as primeiras construções, estava entrando na cidade, quando vi mais luzes e um aglomerado de pessoas. Deveria ser o acidente que a policia havia avisado lá atrás. A confusão deixava-me numa fila de carros e outros veículos.

Fomos passando devagar, parece que uma familia havia derrapado e batido com o carro. Outros diziam que ciclistas haviam tido um acidente. Muitas versões surgiam ao passo que andava-mos.

Cheguei a cidade um pouco atrasado e me hospedei no primeiro hotel que encontrei.

Deverei chegar na hora do almoço ao meu destino e não as 10:00 hrs. da manhã como era o horário combinado.

Dormi bem e acordei com o chamado para o café, a mesa estava com um bule fumegando algo quente, pão e frutas. Sentei-me e peguei o jornal.

Me surpreendi ao ver a foto dos meus caroneiros ali na primeira página. Seu carro havia derrapado na estrada e só haviam escapado com vida, pois agora estavam num hospital, porque um caminhoneiro os havia salvo na estrada, à noite passada.

Fiquei atônito com aquela notícia, me lembrei do sonho que tive e agora lia alí, que tudo realmente acontecera.

Será possível que um sonho tenha salvo aquelas pessoas? Bem, sempre ouvi falar que na estrada tudo é possível. Aconteceu.