CAMINHOS TORTUOSOS
Suzana Garcia
 
 

No acostamento
Lá estava ela
Um olhar que congela
O sorriso de soslaio que espreita
Um coração não ocupado
Desta vida tão estreita

E o caminhoneiro
Num abraço caloroso
Recebe a alma perdida
Que ali, por coitada
Acaba encontrando guarida

E seguem rumo a vida
Compram casa, fazem filhos
Seguem a vida felizes
Tudinho andando nos trilhos

Mas, um dia, chega a outra
Moça arretada e moderna
Desfila por toda a cidade, de saia curta
Mostrando as pernas

Ele, jovem na malícia
Não percebe a safadeza
Se encanta com a beleza
E bota tudo a perder

O batom como carimbo
O perfume vagabundo
Chega em casa de mansinho
E não percebe o outro mundo

Ela desgostosa da vida
Sente o cheiro e o batom vê
Nada fala, fecha os olhos
Trava a língua e liga a TV

E assim a vida segue
Com carimbos de batom
Uns vermelhos, alaranjados
Uns clarinhos outros arrojados

E ela vendo TV

E um dia ela se cansa
Das novelas e deste mundo
Dá um tiro no marido
Que fica morimbundo

Um olhar que se congela
O sorriso de soslaio que espreita
Um coração maltratado
Desta vida tão estreita

A quadra quatro
Numa rasa cova
Ele é enterrado
Numa viagem sem volta