A JUSTICEIRA
João Rodrigues
 
 

Eram quatro horas da tarde quando ela desceu do ônibus na pracinha central. Com apenas uma bolsa a tiracolo, encaminhou-se a uma lanchonete em que havia uma placa "Precisa-se de balconista" e pediu informações. Disse que acabara de chegar e precisava se hospedar em algum lugar, pois não tinha conhecidos na cidade onde pudesse passar a noite. O céu estava escurecendo com nuvens carregadas que anunciavam uma tempestade, portanto devia se apressar se não quisesse ter problemas maiores.

O atendente, ao ver em sua frente aquela mulher loira de olhos verdes e cabelos encaracolados que desciam até a cintura, desmanchou-se em cortesias. Ela aparentava ter seus vinte e poucos anos, usava um vestido longo florido que acompanhava os contornos de seu belo corpo bem modelado, e um decote discreto, mas que mesmo assim chamava a atenção devido aos seus seios fartos e rosados. Seus sapatos de salto alto deixavam seu bumbum ligeiramente empinado. Uma mulher de encher os olhos de qualquer homem.

Rosa Rosinha era uma lanchonete bastante conhecida da população local. Anos atrás - uns quinze anos mais ou menos - havia acontecido ali um assassinato que chocara a cidade. O antigo dono fora brutal e covardemente assinado pelo seu sócio, Manuel Ramalho, e sua família fora embora fugida, pela madrugada adentro, sob o risco de morrer também. A mãe e uma menina de uns cinco anos mais ou menos. A verdade é que nada aconteceu contra Manuel, pois ninguém tivera coragem de testemunhar a favor do morto, já que o assassino era ali um homem de influência.

Fora este crime, a cidade continuava a ser a mesma de sempre, pacata e serena. Sem agito e sem indústria, Santana do Norte vivia como vive todas as outras cidades de interior - da agricultura e do comércio local. O prefeito, o padre e alguns poucos ricos comerciantes locais eram as pessoas mais importantes da cidade, portanto poderosas, que viviam de explorar a população humilde e ignorante da região.

Assim vivia Santana do Norte...

A chuva começava a cair. Seu Manuel, o dono do estabelecimento, dirigiu-se à bela jovem que havia sentado a uma mesa num canto. Perguntou-lhe se poderia ajudá-la. Ele estava precisando de balconista e, se ela quisesse, podia começar a trabalhar na manhã seguinte. A moça agradeceu a atenção e a oportunidade de trabalho, mas disse que não tinha como aceitar, pois estava de passagem, e só estava ali para resolver uma questão pendente, enquanto olhava firmemente nos olhos do homem.

Disto isto, Manuel só tivera tempo de pronunciar admiradamente: "Rosa Rosinha, é você!" e uma bala atravessava a testa dele deixando um filamento vermelho escorrer entre seus olhos. Seu corpo caía sem vida no mesmo local onde caíra o pai de Rosa Rosinha anos atrás.

E, tomados de surpresa, ninguém se moveu.

A moça, ainda com a pistola em punho, cruzou vagarosamente a porta em que havia entrado e saiu pela chuva, de alma lavada, sem olhar pra trás, enquanto os explosivos lançavam abaixo a lanchonete Rosa Rosinha, encerrando de uma vez por todas um caso que estava pendente havia quinze anos.