PEQUENAS HISTÓRIAS 152
Osvaldo Luiz Pastorelli
 
 

Transpira o meio dia na pausa do almoço. Corre-se no tempo que não espera retardatários esquecidos do papel que representam.

Transpiram-se as preocupações, onde os passos nas calçadas íngremes revelam-se numa sociedade burocrática que, implantada conscientemente em cada individuo, torná-lo-á em zumbi controlado.

Deslizo nas palavras contornando as asperezas afiadas mais que navalha de barbeiro. Revelo nas reentrâncias a agudeza de senti-las na totalidade de ser somente o que são: palavras.

Dentro da vida os gestos se materializam na proporção dos sentimentos emitidos ou revelados no grupo a que se pertence.

Marginalizado grita a voz ausente do amor escondido nos cantos da cidade. Vou ao encontro do nada a procura de você e vejo o corpo da indiferença na sarjeta mendigando caricias a peso de ouro.

Esfolo a carne nas pedras da alma endurecida pela ganância de se querer cada vez mais. Ridículo o que eu disse? Até pode ser, mas o caso é que se precisa de muita coisa e nada se recebe.

Precisa-se de alimento para fomentar o medo de viver.

Precisa-se da vida para que tenhamos nossa companheira à morte nos seguindo a espera do seu momento.

Precisa-se do amor fundindo carnes para saciar a alma de culpa e pecado.

Precisa-se da criança para que o futuro não seja interrompido na brutalidade da vida.

Precisa-se do individuo contra o individuo reclamando seu lugar na sociedade de luxo e podridão.

Precisa-se do homem com sua arrogância de macho para perpetuar a espécie.

Precisa-se da mulher para agasalhar a semente que a fará complementar-se com a terra.

Na incompetência do sentimento está a destruição da humanidade.