PRECISA-SE
Patrícia da Fonseca
 
 

Alice acordou ansiosa na manhã de domingo. Ainda era cedo, o sol mal havia nascido. Ela correu até a porta. O jornal já estava ali, no chão. Avidamente, Alice foi direto aos classificados, na seção dos recados. Era para estar ali. Tinha que estar ali. E estava. Seu recado. Não era um recado qualquer. Era quase uma mensagem de uma mulher carente, em busca do homem da sua vida. Alice leu tudo de novo para ter certeza de que não faltava nenhuma vírgula.

"Precisa-se. Precisa-se de um homem companheiro, um homem doce, um homem gentil, que saiba abrir não as portas do carro, do restaurante, da livraria, mas que me abra também as portas do seu coração para que eu possa entrar livremente. Precisa-se de um homem forte, mas não de músculos saltando e marcando a roupa. Ás vezes até fica feio... Eu quero é um homem de atitudes fortes, palavras firmes, olhar firme e no entanto terno naqueles momentos que ficaremos a sós. Um homem que saiba dizer não, mas que saiba dizer sim no dia que eu simplesmente quiser me aconchegar no seu peito, só me aconchegar e nada mais. Precisa-se de um homem inteligente. Não precisa ter curso superior ou falar três línguas, porém que seja inteligente o bastante para entender a felicidade ou a dor do meu olhar ou os sentimentos que por algum motivo meus lábios não conseguem expressar. Precisa-se de um homem viajado. Não precisa ter ido para África, Europa ou Ásia. Só precisa ter navegado pelo uma vez na vida através da alma de uma mulher. Assim, meus caros pretendentes que estão lendo esta quase carta, vocês poderão entender o que se passa no coração da gente. Precisa-se de um homem jovem. Pode ser um jovem de cinqüenta anos ou de vinte, mas jovem o bastante para andar de balanço comigo, correr na praia em um entardecer, curtir uma final de campeonato em um estádio lotado, e rir, rir, rir até não poder mais. Tenho que confessar que o som de uma risada é algo extremamente rejuvenescedor para mim. Vou confessar que não sou a mulher mais bonita do mundo. Nem a mais alta. Nem a mais magra, nem a mais gorda. Já tenho alguns sinais que marcam meu rosto, alguns fiozinhos brancos que disfarço com tonalizantes a cada dois meses e me vejo obrigada a usar salto alto porque não gosto de ser baixinha. Tenho um bom emprego, sou independente, comprei um carro faz dois anos, mas ainda não troquei por um zero quilômetro porque tenho coisas mais importantes a fazer com meu dinheiro. Não falo duas línguas, contento-me em falar e escrever bem o português. Ah, e não uso silicone. Não sou a mulher perfeita, mas não preciso de um homem perfeito. Preciso de um amor que caminhe comigo, de mãos dadas, que me olhe nos olhos e sorria para mim e não me esconda por ser casado. Preciso de um homem que ame pelo que sou e que não me queira apenas pelo sexo. Não é mais um homem para passar a noite que preciso. O que eu quero é um homem para partilhar minhas horas, meus minutos e meus segundos. Um homem que queira viver intensamente comigo. É isto. Somente isto.

Quem tiver algum interesse, mande e-mails para amorparavidatoda@ceu.com.br ."

Alice fechou o jornal e durante todo aquele domingo e o resto da semana ficou esperando as mensagens chegarem. Vieram poucas. Nenhum dos homens lhe agradou. Alice ficou sem saber se estava sendo seletiva demais ou se havia sido eles que ficaram com medo. Talvez as duas coisas.