PRECISA-SE
Roberto Mauro Garcia
 
 

Andando, simplesmente andando. Indo e vindo em ruas sem conhecer. No bolso, onde guardava as mãos, uma figa. Apelando a todos, a tudo. A Santos, pastores, padres e candomblé. No ar e no peito, a esperança.

Só queria um espaço, um lugar. No curriculum vazio, apenas o nome mal escrito. De experiencia, apenas da vida levada. Da vida e sobrevivência, aí sim professor. Mas não tinha valia. Era bom falar Ingles. Bater bem no teclado, e computador. Não teve tempo de aprender, nem ninguem para ensinar. Entrou numa rua. Uma fila enorme. Não custava nada tentar. Ficou ali, apertando mais a figa. Nem sabendo porque. Debaixo do braço, uma Biblia pequenina. Biblia que lia sempre, sem entender nada. Mas lia. As vezes até em voz alta. Queria se fazer escutar. Quem sabe assim... Automáticamente a pega, e começa a ler. O homem à sua frente na fila, lhe diz. Eu li muito essa linhas, preciso de um emprego, tenho mulher, tenho filhos. Bocas para sustentar. Para que escutou isso. Porque ele, logo ele ia tirar daquele pai de familia um lugar no emprego. Tambem tinha fome, mas o outro, tinha familia e filhos. Ele erá só. A fome era só dele. Saiu da fila. Antes, desejou ao homem, boa sorte.

A fome já doia no estomago, há muito tempo. Via o tempo escurecer, era fome. O mundo rodava, já nem via ninguem. A fome aumentava. Caiu, sem nem sentir o tombo, caiu! No chão, olhos cansados, fechados, escuro. De repente, parece que tudo , clareia, tudo azul, força, na frente vê uma placa. Quem sabe PRECISA-SE, mas assim sem fila?? olhou mais perto estava escrito CÉU....ele entrou.