SÓ UMAS HORAS A MAIS DE SONO
Tânia Barros
 
 

Acordei um dia e percebi imediatamente que precisava dormir mais um pouco. Mas daí a cinco minutos tocou o despertador lembrando-me que eu precisava levantar e seguir para trabalho lá biblioteca, caso contrário, seria um forte candidato ao desemprego.

Naquela manhã, antes de chegar ao trabalho, passei por uma fila imensa de candidatos à vaga de vendedor numa loja de eletrodomésticos. Na frente a placa dizia: Precisa-se de Vendedores. Claro que nem todos eram desobedientes ao relógio despertador, pensei, mas lá estavam porque uma lógica no mundo atual não correspondia com a realidade. Ora, há mais gente que trabalho, ou há menos emprego tradicional que gente em busca de um emprego tradicional. Imagine se a informalidade não operasse em nossa economia!

Pois bem, imaginei, então, que se por acaso um dia eu resolvesse dar mais ouvidos ao meu "preciso dormir mais um pouco", ainda teria como fugir das filas de desempregados através do trabalho informal. Trabalho informal? Matutei com meus botões se tal título - trabalhador informal - não me incomodaria depois de um tempo, claro, caso o sustento tirado dele não me garantisse umas horas a mais de sono. Além disso, não saía da minha cabeça naquele dia para qual trabalho informal eu estaria disposto e capaz.

Percebi que a questão levara-me bem mais longe. Eu estava entrando num mundo incrível de auto-conhecimento. Pensei que talvez tivesse de fazer o teste vocacional novamente, e até encomendar um mapa astral. Uma colega da biblioteca, uma das administradoras, ouvindo-me por três dias na hora do almoço, chegou a me garantir que eu precisava tomar Florais de Bach para clarear minhas idéias, pois que eu poderia estar - com essa história toda - é escamoteando uma grande raiva do trabalho ali. Decidi calar minha boca depois dessa. De pouco valeu, pois, o disse-me-disse, hábito tão comum, necessidade mesmo para a maioria das pessoa - levou minha superior ao cúmulo sugerir, não muito sutilmente, uma licença médica para descançar.

- Mas que isso! Tudo partiu de um comentário. Quem não gosta de ficar um pouco mais na cama em certos dias, Dona Suely? - Comentei com ar brincalhão.

- Não se preocupe, meu filho. Tem um novato aqui, ele "dá conta do recado" pra você nesse período!

Verdadeira "amiga da onça" esta aí.

Tal situação ridícula me tirou o sono pra valer, e daí o que antes era apenas um capricho virou realidade. Deus me livre de comentar que preciso atualmente usar guaraná em pó para ir trabalhar, e no silêncio da biblioteca!