PAS DE DEUX
Denis Sevlac
 
 

O vento sopra seus cabelos, a conduz. Seu corpo, movimentando-se graciosamente, descarrega toda a energia acumulada por anos. Finalmente está apaixonada.

Demorou muito para acontecer. Ficara se perguntando quando aconteceria. Se aconteceria.

Sua última paixão, na saída da adolescência, deixou-lhe marcas terríveis. Tinha encontrado o homem de sua vida nos corredores da faculdade. Mas se apaixonara sozinha.

Foi sim uma linda história de amor. Apenas terminou dolorosamente, como tinha que ser. Tudo é passado agora.

Carregou consigo a culpa de não ter feito dar certo. Culpa, culpa, culpa. Culpa por tudo. Por ter deixado outro homem se apaixonar por ela. Por tê-lo feito sofrer tanto quanto sofrera nas mãos daquele a quem amou. Como uma corrente. Uma terrível corrente de mágoas.

Não conseguia mais deixá-lo, o homem a quem fazia sofrer. Tornara-se dependente daquela relação doentia. Era sua prisão, onde expiava suas culpas.

E ele a amava tanto...

Mas finalmente está livre. Encontrou um novo amor. Tudo passou a se encaixar. A felicidade não largará mais sua mão. Nada e nem ninguém mais importa. Mesmo que tudo ainda seja segredo.

Sua felicidade traduziu-se em dança. A mais bela já dançada. A mais apaixonada.

Agora, apenas o vento, seu par, sente o pulsar de seu coração.