APENAS UM SOPRO
Pedro Brasil Jr.
 
 

"O vento é sempre o mesmo, mas sua mensagem é diferente em cada folha"
(Cecília Meireles)

Dizem que a vida nada mais é do que um sopro!... Em sendo assim, a existência é rápida, melancólica e dotada de estranhas transformações que nos direcionam, dia após dia, a uma espécie de complexo labirinto. Em que se pese uma possível tese, nada sabemos de concreto a nosso próprio respeito, já que muitas das nossas vontades e dos nossos desejos surgem de forma espontânea, inexplicável, completamente sem nexo. Mas nós fazemos dessas características pontos primordiais para seguir em frente, superando obstáculos e se deixando levar pelos magistrais vôos da imaginação. Em outras palavras, somos idênticos ao vento!

Sabemos que ele nasce a todo instante, em todos os lugares e que se deixa levar sorrateiro, de maneira a emanar transformações em qualquer paisagem. Seja por uma brisa confortável e melancólica ou por soprões tão violentos que a destruição é implacável. Não tem forma definida e nem cor, mas tem um grande poder de força. Pode alterar os cursos da natureza da maneira que achar conveniente e em nós, tem o poder de mexer com as mais profundas emoções da alma. O vento é apenas um sinal, um aviso, um despertar, um companheiro de um momento de idéias férteis ou de tristezas implacáveis. Sempre que passa deixa suas marcas! E isto é indiscutível! Tem em sua invisibilidade todas as cores, até porque, podemos senti-lo externa e interiormente e carrega em si todos os mistérios em torno das inúmeras atividades do planeta ao longo de sua jornada. Somos com certeza apenas um sopro de vida! Faz muito sentido... Porque o vento tem lá sua própria canção e seu grito de horror. Desfila sobre os oceanos e cria suas incríveis ondas. Dá rasantes sobre os desertos e cria seu inconfundível balé das areias . Serpenteia os arvoredos em toda parte e testa assim a força de todas as raízes. Em sua dança frenética, gera movimentos distintos e cria espetáculos que só se podem ver através do coração.

Talvez neste exato momento o vento não faça nenhum sentido para a maioria das pessoas afinal; é apenas o vento, um dos tantos fenômenos que nos cercam e nos conduzem pela vida. Mas com certeza, todas as pessoas, em algum momento de suas existências já se detiveram diante a esse poder invisível e implacavelmente inexplicável, no sentido de sua marcante presença em nosso contexto humano. Todos nós já vivemos um certo dia em que uma brisa, um ventinho, um pequeno rodamoinho ou até mesmo a força de um temporal demarcou aquele instante da mesma maneira que uma canção fica eternamente registrada em nosso interior, porque ela representa uma marca do nosso avanço ou da nossa fraqueza diante de certos obstáculos. Assim também acontece com o vento em suas aventuras fascinantes ou em suas desventuras destrutivas. A vela do barco que singra o oceano, as velas de navios que um dia partiram em busca do desconhecido, as nuvens que desfilam pelos céus criando estranhas formas, os moinhos que através das apás de suas hélices sugam energia, os balões e dirigíveis que fizeram o homem dar os primeiros passos para o vôo, a beleza das aves que se aproveitam das correntes térmicas, as pipas coloridas que encantam a vida das crianças, os antigos chapéus que eram levados adiante em cenas engraçadas, os vestidos de damas cheias de pudor que repentinamente se levantavam com a peraltice do vento entre tantas outras peculiaridades que fazem desse poderoso invisível um coreógrafo de todas as vidas, de todos os tempos. Em sua dança mirabolante consegue façanhas que só os olhos mais atentos podem observar e assim, segue por entre nuvens e montanhas desfilando sua supremacia diante de tantos outros poderes que nos cercam e nos atemorizam. Mas ele é o vento, um bailarino preciso que consegue, enquanto faz suas evoluções, pincelar tantas artes entre o céu e a terra. E só assim, é que pode de fato e de direito dizer que está presente, que tem movimento, sutiliza, magia, encantamento e todo um universo da mais pura poesia.