NÃO PENSE QUE O SILÊNCIO É DOR, POIS SERÁ PARA SEMPRE AMOR, ATÉ O FINAL DOS MEUS DIAS
Dam Nascimento
 
 

Cai a noite em um manto negro de estrelas, não se sabe no abraço da madrugada o limite entre sonho e realidade. Ela conheceu alguém a quem amará para o resto de sua vida e nem se deu conta. Ana Paula conheceu João. Juntos é como pensar em adrenalina e pulso, alma e coração. Nasceram um para o outro. Fizeram planos para o futuro. Era lindo vê-los correr pela chuva desafiando o tempo; ver como jovens podem amar sem limites. Sentir o brilho no olhar que é capaz de mudar o mundo. Eles em seu anonimato representavam o sonho de felicidade a que todos almejam. A espontaneidade de ambos fazia parecer natural até as regras quebradas. Sob o som do mar, no clarão da noite, ele fez o pedido: Mulher que eu amo, me faz feliz pelo resto de minha vida e que ela seja tua também. Me dá o prazer de dividir contigo os meus momentos, seja a minha voz e o meu olhar, eu sou apenas coração e pulso. Sua mão em surpresa saca uma rosa e um anel; do rosto dela cai uma lágrima. Nem precisava dizer, seu corpo parecia gritar sim e eles se amaram como sempre, de uma forma de entrega total. Os meses se passaram, ela conheceu os pais dele. O mesmo só não aconteceu por que sua mãe morava longe e provavelmente só a apresentaria no dia do casamento. Eles não viam a hora de morar juntos como uma casal. Além do mais, estava grávida de três meses e logo não daria para disfarçar a barriguinha. O dia chegou e nada parecia mais perfeito. Todos estavam lá, menos a mãe da noiva. Ana ficou um pouco triste pela ausência da pessoa que mais amava na vida, mas, seguiu em frente. Sua mãe chegou no momento crucial do casamento, cumprimentou os presentes rapidamente e o padre perguntou: Tem alguém que tem alguma coisa contra este casamento e se fez um silêncio absoluto quando uma mão ergueu entre os presentes. Era a mãe dela, já com lágrimas nos olhos: _ Eu tenho seu padre _ e um segredo do passado veio à tona. No passado ela engravidou do pai de João e sumiu; esta filha era Ana e neste hall de desencontros se reencontraram ali, para presenciar o casamento de dois irmãos. A história parecia de um fundo tão trágico que todos choraram, inclusive o pai de João por descobrir que sua futura nora era na verdade sua filha. A emoção foi forte demais para Ana que perdeu o filho manchando o seu vestido de sangue. João ficou atônito, sem expressar nada, sem um tom de voz, a sensação poderia ser de alegria de descobrir que tinha uma irmã, mas, para ele, nada poderia ser pior. Foi um imprevisto fatal, se é que podemos chamar assim. Resignados foram ao cemitério enterrar seu filho e seus sonhos juntos, com o coração descompassado entre dor e alivio , escreveram uma frase final na lápide que arrastou mais comoção: No pense que o silêncio é dor, pois será para sempre amor até o final dos meus dias. E assim, tentaram tocar suas vidas e escreveram uma história em que o amor arrasou o amor e se refez.