RESPOSTA IMPREVISÍVEL
Djanira Luz
 
 

Nada contra a pregação de evangélicos de porta em porta, mas por que será que eles têm a mania de aparecer em horários inoportunos? Nas primeiras horas do dia ou do almoço. Ou estamos meio que perdidos por estarmos, ainda sonolentos, ou bem atarefados e apressados com o preparo da refeição.

Justo aquele dia em que eu estava cheia de assuntos para resolver, com criança febril em casa, aconteceu. Aquelas palmas sonoras e conhecidas levam-me para sua a direção. São eles, já sei. Olho através da vidraça da sala e um casal de meia idade com cara de poucos amigos convidam-me para eu "conheça" a Palavra de Deus. Mesmo atolada, cheia de tarefas a cumprir, me visto de paciência e como uma boa samaritana, vou ter com eles. Mal me aproximo, a senhora vai falando em voz alta para se fazer ouvir pela vizinhança e talvez, para me intimidar:

- A senhora quer aceitar Jesus na sua vida?

Sinto que não estou nos meus melhores dias para ouvir aquela interrogação imbecil. A pergunta correta deveria ser... "você está muito ocupada, quer que voltemos em outra hora marcada? Ou "qual a sua religião?" ou ainda... "você aceita ouvir sobre a minha religião?" Percebo que eles não se importam com o que sinto ou penso, só querem vender seus peixes. Se agissem como sugeri, com cortesia, poderiam até minimizar a indelicadeza do horário. E certamente, eu veria os missionários com mais simpatia; mas não. São rudes e diretos. Mantendo calma e educação, respondo que sou de outra religião, mas que seguia o mesmo Deus deles. A mulher começou a querer provar que só religião dela garantia a salvação. O homem ficou complementando a mulher com palavras sem nexo ou coerência. Aquilo foi ficando desagradável aos meus ouvidos e a meus princípios.

Para finalizar aquele quase monólogo, disse-lhes que religião quando se quer o bem comum, amor ao próximo, é tudo igual. O senhor que acompanhava a senhora na pregação, ficou extrema e visivelmente alterado quando comparei minha religião à deles. Através do portão, do lado de fora da minha casa, ele apontou para um quadro de Maria que estava na minha sala e vociferou:

- Você é uma idólatra! Nós não! Adoramos ao Deus vivo; não estátuas e imagens!!!

Vontade mesmo que tive, foi de mandar aquele casal ignorante para lugar onde eles não gostariam nem um pouco! Estou farta de ficarem sempre com essas mesmas acusações evasivas. Pois quem não é capaz de entender e compreender a religião do outro, ao menos respeite. Como sou educada e delicada ao extremo, optei por devolver-lhes a ofensa com calma e sabedoria.

O casal que chegou com boca de dragão, achando-se donos da verdade e da religião, saiu do meu portão com boca de pedra-ume pedindo desculpas. Eles não contaram com aquele imprevisto de alguém falar baixinho, de mansinho, mas que na verdade, creio que foi a resposta mais gritante e bem dada que eles já puderam ouvir...