Tema 181 - Farrapo Humano
BIOGRAFIA
O MENDIGO AZARADO
Regina Borges

Havia uma loja no centro da cidade especializada em roupas de cama, mesa e banho... Era um estabelecimento comercial bonito e sofisticado. Eu prestava pequenos serviços à dona da loja. Fazia bicos de crochet nas toalhas e panos de prato.

Um dia, quando fui entregar uma encomenda, encontrei os funcionários da loja muito agitados, revirando as prateleiras cheias de peças de tecido, em busca de um vilão, um rato que se infiltrara na loja e estragara uma peça muito cara, um prejuizo, segundo a dona, incalculável. Apesar dos esforços de todos, o safadinho, esperto e cheio de artimanhas, escondera-se tão bem, que ninguém
conseguia descobrir-lhe o esconderijo. Eu, que morro de medo de baratas, mas adoro a caça aos ratos, ofereci-me para entrar naquele torneio divertido...

Analisei friamente todas hipóteses e fui eliminando uma a uma, aquelas que supunha terem sido descartadas pelo inteligente roedor atrevido.

Tive uma idéia luminosa... O rato estava escondido no cesto de lixo. Pisquei de maneira cúmplice para todos aqueles que queriam linchar o rato e, com um sinal com o dedo indicador da mão esquerda apontei o cesto de lixo, e, com o indicador da mão direita pedia silêncio. Pé ante pé peguei, peguei um saco plástico grande e envolvi o cesto de liso... Não deu outra! Lá estava ele, o bandido! E agora, o que fazer com ele?

Coloquei-o em cima do balcão... Lá de dentro, ele olhava para nós pedindo clemência...

A dona da loja arranjou uma bela caixa e pediu-me que o colocasse ali dentro. Sádicos e vitoriosos enfeitamos a caixa e a colocamos no latão de lixo.

A dona da loja não queria que ninguém soubesse da existência daquele rato. Afinal, a mais alta nata da sociedade comprava ali suas sedas e babados.

Os transeuntes que passavam pela porta da loja e viam no lixo aquele lindo pacote, ficavam tentados em levá-lo para casa, mas a educação os impedia a afoiteza da coleta.

Foi nesse ínterim que passou um farrapo humano, um mendigo sujo e maltrapilho. Como todo mendigo costuma assaltar as lixeiras à cata de guloseimas deterioradas que lhes serve de saborosa refeição, aquele infeliz, não pensou duas vezes. Catou rapidamente o pacote e saiu em desabalada carreira, certo de que achara um tesouro...

De dentro da loja, arrependidos da nossa má ação do dia, pedíamos a Deus perdão por ter dado ao azarado mendigo, aquele excêntrico presente.

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