Tema 182 - Primeiros anos
BIOGRAFIA
TENTANDO AGIR NATURALMENTE...
Adriana Vieira Bastos

...procurou disfarçar o confuso sentimento que tomava conta de si ao vê-lo ansioso esvaziar o guarda roupa e colocar todos os pertences dentro da enorme mala, comprada para aquela ocasião.

Os livros, os cds, a raquete de tênis, a coleção de cartões, aguardavam pacientemente a vez de serem colocadas na da caixa de papelão ao lado da cama.

Ofereceu ajuda, mas ele, sem perceber a aflição dela, agradeceu. Triste, entendeu que este era um momento só dele e a ela cabia apenas as lembranças de tudo que haviam compartilhado juntos.

Lembrou-se da expectativa do primeiro encontro. Será que estava preparada para aquele relacionamento? Como ele seria?

Tantas elucubrações se perderam no momento em que o viu pela primeira vez. Fez o maior sucesso no pedaço. Não tinha quem não o achasse lindo e ela simplesmente derreteu-se toda ao saber que era no mundinho dela que ele iria reinar.

Sorrindo, lembrou-se de como nos primeiros anos ele a surpreendia quase que diariamente. Uma fala espirituosa. Um jeito diferente de ver o mundo. Um sorriso conquistador e maroto de quem sabia ser a arma fatal para deixá-la submissa aos seus encantos.

Os anos se passaram e começaram as mudanças!

O olhar maroto dava lugar ao olhar contrariado. O silêncio tomara o lugar das falas espirituosas. Súbitos rompantes tornara-se a arma ferina contra todos que ousassem ameaçá-lo. O sorriso se tornava circunspecto e ciente de sua força. Mas quando se distraia surgia a espontaneidade no olhar.

Ambos sentiam ser a hora de aprendizado!

Hora de aprender a conviver com as diferenças. Com a individualidade.

O tempo não parou até chegar ao quarto. E ela, com os olhos marejados, deu-lhe um sorriso tímido, com a certeza de que ele também levaria num cantinho da mala as lembranças de tudo que viveram.

Sorriu um pouco mais ao ouvir aquela voz, que se tornou grave e firme, dizendo: - Calma mãe, eu só vou me mudar!"".

Não ousou contestá-lo por saber que ele ainda era jovem demais para entender que ela não chorava por vê-lo partir. Mas eram lágrimas de felicidade por sentir ter cumprido sua missão de mãe e tê-lo preparado para alçar vôos maiores.

Deu-lhe um beijo no rosto, desejou-lhe boa sorte, ciente de que o amor incondicional, plantado e cultivado nestes anos todos, permaneceria num cantinho do coração de ambos, independentemente do caminho que resolvessem trilhar.

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