Tema 183 - Besteirinhas
BIOGRAFIA
ABUNDÂNCIA DE FÉRIAS
Eduardo Prearo

Não, por mais que eu creia que seja, não é perseguição. Simplesmente me estranham e eu...eu sei que têm esse direito. Na verdade me falta carisma e no momento atual há o que se pode chamar de zica. Está tudo se repetindo: em um passado mais ou menos distante eu tinha o mesmo sentimento de inadequação para o trabalho. Mas não procurei a ajuda devida, e os surtos todos até hoje parecem-se com coisa de menino mimado ou de um malandro sem-vergonha. Não me estranho mas temo o estranhamento alheio, de gente desconhecida. O que me alegraria? Dinheiro. E sempre tenho essa sensação burra de estar sendo passado para trás. É como se houvesse uma entidade me vigiando o tempo todo, despindo-me de todo e qualquer poder. A troco de quê não sei exatamente. Muitas coisas me igualam a todos, eu sei, e ouço vozes, vozes dizendo que está feito justiça. Não sei que crime que cometi e que me ocultam, severamente. Faz parte escondê-lo. Não sei o que represento para as pessoas, para os estranhos. Mas há alguma coisa muita boa além desse véu de obscuridade, um mundo bom. É uma coletividade que não me impede de viver minha própria vida, porém creio que no momento ninguém simpatiza comigo a ponto de me auxiliar a ser alguém na vida. Essa coisa de achar que quando tudo dá errado é merecimento me incomoda. Devo então calar-me mais ainda? Estou colhendo o pouco que semeei. Simplesmente eu poderia dizer que não tenho capacidade, que sou limitado. Ouço as pessoas falando dos limites, das crises, elas sempre conversam sobre isso, mas não sobre abundância, não, quase nunca. A abundância saiu de férias nesta vida, e o que há do outro lado poderia me assustar. Basta.

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