Tema 192 - MEU TESOURO!
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MEU TESOURO VERDADEIRO
Sharon Ratis

Deve ser a primeira crônica que escrevo, mas não há outro formato para falar do meu tesouro. Porque o meu tesouro é o tesouro de muitas outras pessoas também.

Fui uma das mais de quarenta milhões de pessoas que acessaram o vídeo do leãozinho Christian, no YouTube. O meu tesouro é o tesouro daqueles dois rapazes: o amor de um animal. E o amor que poucos seres humanos são capazes de sentir por um animal, qualquer animal, não importa a espécie.

Quando perdi meu primeiro gato, o Lee, ele tinha peritonite infecciosa felina. Uma doença que não tinha cura. Ele não tinha nem dois anos de vida. Mantive-o comigo da forma mais confortável possível até que ele pediu para que eu o deixasse partir. Quem ama os animais de verdade sabe do que estou falando. Quem não ama, deve estar achando que isso é uma conversa de doido. Não importa, um poeta, nos anos setenta, cantava "mais louco é quem me diz/ e não é feliz/ eu sou feliz".

Lembro-me de uma conversa que tive há tempos com uma amiga. Ela dizia que quando a cachorra dela, uma labradora, faleceu, ela a enterrou sob uma árvore, debaixo de um temporal. A partir da primavera seguinte, a árvore que nunca havia florescido, passou a dar umas flores brancas belíssimas, as mais belas que a minha amiga já vira.

Essas histórias não acontecem apenas com cães e gatos. Há pouco mais de três anos, perdi um hamster. Não foi o primeiro hamster que tive, mas foi o mais amado. Tínhamos uma ligação especial. Eu vivia com o Dee Dee nas mãos. Ele tinha o pelo mais longo do que o comum, bem branquinho. Às vezes, a serragem se misturava ao pelo e formava nós que ele, já velhinho, não conseguia desfazer. Eu pegava um pente desses para cabelo de nenê e, entre beijos em sua barriga, ficava penteando-o até desmanchar todos os nós. Ele chegava a dormir na minha mão.

Com a idade, o Dee Dee ficou cego e desenvolveu artrite. Comecei a mexer com ele cada vez menos, para não incomodá-lo. Em sua última semana, ele mal se mexia. Relutante, eu lhe dava analgésicos em uma seringa, na boca. Sofria ele e sofria eu.

Numa noite quente de verão, chovia muito. Segurei-o na mão para medicá-lo. Não consegui. Fiquei conversando com ele. Bem baixinho:

- Vai, Dee Deezinho, se você precisa ir. A mamãe não vai ficar triste com você. Vá descansar, meu amor. Você foi um ratinho tão valente! Um ratinho tão amado! Está na hora de você ir descansar. Vá em paz, meu filhinho.

Entre minhas lágrimas e uísque, ele foi relaxando na minha mão. Eu acariciava seu pelo, secava o rosto antes de beijá-lo e tentava convencê-lo de que estava tudo bem. Aos poucos, sua respiração foi ficando com o ritmo mais lento. Até que parou de vez. Ainda chorei muito com o corpinho dele na mão. Então o coloquei enrolado em papel-toalha numa caixinha cheia de flores desenhadas e desci, debaixo de chuva para enterrá-lo sob umas flores, na praça em frente ao meu apartamento.

Talvez essa crônica nem seja publicada por fugir um pouco ao estilo do site, mas depois de ver pela milésima vez o vídeo do leão Christian, quis dividir meu maior tesouro com você que me lê.

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