Tema 192 - MEU TESOURO!
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A BONECA
Sonia Regina R. Rodrigues

- Titia já voltou de viagem ? - perguntei à vovó.

- Já, e você nem imagina o que ela trouxe!

Tentei imaginar o que a tia poderia ter trazido para deixar vovó tão irritada.
Neste momento a porta abriu - se e minha tia surgiu, trazendo pela mão uma garota aí de uns cinco anos.

- Minha sobrinha! Dê cá um abraço! Esta é a Luizinha. Fui levá-la à praia, pois ela nunca vira o mar.

Olhei espantada para aquele toquinho de gente. Nunca vira criança tão magra e tão feia. Quase só ossos, cabelos quebradiços que pareciam palha.

A menina arregalava os olhos para tudo e literalmente devorou as frutas e o leite que vovó serviu no lanche.

A menininha morava no sertão da Bahia, na fazenda aonde a tia fora passar as férias. Chucra de tudo, envergonhada, bobinha. Seus olhos esbugalhavam-se de espanto ao ver os siris à beira-mar. Dava gritos de prazer ao catar conchinhas na areia.

Titia comprou na feira uma dessas bonecas baratinhas, sem roupas e com cabelos desenhados no próprio plástico. Às escondidas, fez, com retalhos, roupinhas para a boneca, para presentear Luizinha.

Quando eu encontrei a garota, no outro dia, ela gritou-me, radiante:

- Veja a minha filhinha!

Titia contou - nos, emocionada, que a garotinha apertara a boneca ao peito e adormecera agarrada a ela como se segurasse um tesouro. Sem dúvida, ela nunca pensara que poderia ter uma boneca.

Eu, que possuía tantas bonecas caras, vi a felicidade estampada no olhar da pequena. E percebi as lágrimas que titia escondia, ao segredar-me:

- Custa tão pouco dar alegria a alguém.

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