Tema 197 - TEMA LIVRE
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ROMANCE DE OUTONO
Ronaldo Lourenço de Sousa

Um menino e uma menina. Ele e ela então, com nove anos de idade. Quinze anos de procura, desde que um aceno de adeus selou a separação. Foram quinze anos de busca. Aos vinte e cinco a reencontrou numa estação, num dia de chuva. Olhares curiosos e amedrontados. Ele, cheio de amor, ela, cheia de dúvida sobre o amor. Numa manhã de outono ela interna-se no hospital. Ele, um guardião apaixonado, não desgrudava de sua maca, de seu uniforme verde de paciente. Uma rosa azul dá vida ao branco do quarto de hospital. Ele a ama, ela tenta reconhecê-lo em sua memória. Com a chapa da ressonância em mãos, ele busca entre as inflamações cerebrais algum vestígio de sua presença, naquela a quem sempre lembrou. Oito dias de internação, numa manhã de outono, a alta dada. De mãos entrelaçadas, debaixo da garoa fina, finalmente o amor poderia viver, ou sobreviver? Separação inevitavél. Ela parte para Minas Gerais, conhece outro moço, se casa, tem filhos. Ele nunca casou, virou um marginal do amor. Viveu romances escassos e descomprometidos, mas nunca voltou a amar como antes. Cinquenta anos se passam desde o último encontro. Já com setenta e cinco, aposentado e sem ritmo na vida, caminha num parque de São Paulo, enxerga um banco onde se encosta e contempla em sua solidão o lago e os patos. No banco ao lado, ela com setenta e cinco anos, segurando uma rosa azul na mão aguarda ansiosamente um reencontro, naquela manhã de outono.

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