Tema 198 - PORTEIRA FECHADA
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O PRÓLOGO OCULTADO
Fernando Rocha

Uma estória sobre a mãe do Patinho Feio

Era uma vez...

- Ei!

Quem está falando?

- Sou eu Seu narrador, Narcísea, é que após tanto tempo, prefiro eu mesma contar tudo sobre a origem dos problemas pelos quais passei, e que por conseqüência geraram os problemas do meu filho, tudo bem pro senhor?

Claro que sim minha cara!

- Então, tá bom!

- Bem, caros leitores, espero que me compreendam e não me julguem mal, depois de ter guardado este segredo por um tempão, irei revelá-lo agora à vocês.

- Eu era uma bela cisne que vivia com seus pais no campo, meu pai morria de medo que eu me engraçasse com algum cisne da corte, pois para ele, esse tipo de rapaz gostava apenas de se divertir com as camponesas, mas para casar sempre procuravam as cisnes da corte, sabe como é né, a estrutura da sociedade deve ser preservada!

- Embora minha mãe tenha lido por inúmeras vezes a estória da Chapeuzinho Vermelho para mim, a advertência não surtiu o efeito desejado e honestamente só depois de muito tempo, é que percebi que havia uma dentro daquela narrativa.

- Um dia eu estava lavando roupa na beira do rio, cantarolando uma canção, quando repentinamente virei para colocar as roupas na bacia, avistei um belo cisne, que me observava. No primeiro dia ele não me disse nada e nem se aproximou, mas também nem precisava, com aquele olhar que ao mesmo tempo mostrava desejo e inocência, ele tatuou em minha mente seu rosto, notei pelas suas vestes que não era um camponês, assim como eu e minha família.

- Desconcertada fui para casa, confesso que o medo que sentia não era do moço, mas sim dos meus pais, eu nunca contrariava as advertências que me davam, mas em minha cama ao fechar os olhos para dormir, eu via aquele rosto, que insistia em não sair dos meus pensamentos.

- Nos dias seguintes, lá estava ele na mesma posição, como se fosse um quadro que insistia em querer decorar um espaço em minha vida, após uma semana nesta rotina ele se aproximou, caminhando lentamente ao meu encontro, minhas pernas estavam bambas, meu coração acelerado, mas disfarcei, eu acredito que tenha conseguido!

- Ele me disse, - Olá! E se apresentou, seu nome era Juan, filho de um conde, estava a passar uma temporada numa propriedade da família, e para relaxar caminhava pelo entorno do rio.

- Ah!... Ele mostrava-se sensível, recitava-me poemas, falava sobre artes, dizia-me que estava cansado da corte, e planejava morar no campo para ter uma vida mais tranqüila, mas como temia a solidão, procurava uma companheira, com quem pudesse compartilhar sua existência, de uma maneira simples.

- Estremeci ao ouvir aquilo, quando em meio a tais revelações, me senti fragilizada, ele ao observar-me atentamente, encontrou o momento certo para o ataque, beijou-me, a sensação daquele beijo foi maravilhosa, se fechar os olhos até hoje posso sentir tudo de novo.

- Nossos encontros seguiram-se, a intimidade entre nós crescia, chegando ao ponto inevitável...

- Após uma semana, desde o nosso contato intimo, ele já não aparecia mais diariamente como antes, suas visitas passavam a ser espaçadas, no final daquele mês disse a ele que me sentia estranha, propus que nos casássemos o mais breve possível, pois desconfiava que estivesse grávida.

- Ele, após ouvir a palavra GRÁVIDA, parecia ter sido atingido por um tiro, ficou pálido e balbuciou sons confusos, depois disto, suas visitas tornaram-se mais esporádicas do que já haviam se tornado, na última vez que o vi, contei-lhe sobre meu desejo de apresentá-lo aos meus pais, ele autorizou-me a contar para eles sobre nossa relação e planos de casamento, prometeu-me que no dia seguinte iria a minha casa para pedir minha mão formalmente.

- Com uma felicidade que não cabia em mim, fui correndo para casa para contar aos meus pais a boa nova, minha mãe mostrou-se animada, mas temerosa, já meu pai bradou injúrias incontáveis.

- Na noite seguinte, mesmo com meu pai contrariado, estávamos todos de prontidão a esperar meu noivo, a hora parecia não correr, ao menos para mim, quando se aproximou do horário combinado, não cabia em mim de tamanha ansiedade, a partir daquele momento o tempo se arrastava, e nada de meu amado aparecer.

- Após esperarmos por muito tempo, a paciência de meu pai evaporou, ele avançou sobre mim me agredindo com todo seu instinto animal, depois de tomar uma surra, fui para o quarto, lá quando trocava de roupa, fui surpreendida pela minha mãe, que me flagrou vomitando por enjôo e desconfiada gritou:

- Não acredito! Não pode ser! Tanto que eu te alertei, como você pode deixar isto acontecer? Eu vou ter que contar pro seu pai, você está grávida minha filha!

- No dia seguinte meu pai me expulsou de casa, dormi na rua, embaixo de pontes, até que aceitei o convite de uma cortesã, que me ofereceu abrigo e trabalho, mas com uma condição, que eu abandonasse meu filho após dar-lhe a luz.

- Desesperada, não relutei a esta condição, após o nascimento de meu filho, ou melhor, o ovo que lhe daria origem, caminhei pelo bosque atrás de um ninho de cisne para depositá-lo, com a esperança de encontrar uma boa mãe para ele, como não o encontrei, depositei num ninho de uma pata que tinha ido tomar banho no rio, como avistei a bela fêmea próxima a um castelo, imaginei que ela fizesse parte da nobreza e assim poderia oferecer ao meu filho uma boa condição de vida.

- Não preciso dizer mais nada, pois todos vocês já conhecem o resto da história.

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