Tema 198 - PORTEIRA FECHADA
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CORAÇÃO EM MAREMOTO
Mairy Sarmanho

De vez em quando, como se tomada por algum estranho espanto, sinto que meu coração se fecha em camadas, ora de seda, ora de algodão ou mesmo de malha de ferro. E sinto que ele ainda palpita mas não tenho nenhum domínio dessa condição. Percebo pequenos arrepios que percorrem meu corpo substituindo o fluxo do sangue e acredito serem eles que me mantém viva.

Algum tempo depois, talvez instantes, minutos, anos, essa porteira se abre e por ali passa a mais contundente percepção do amor, feito em renda branca, crochê delicado ou apenas de pétalas de flores do campo. Sinto que o sangue flui com ferocidade, sem qualquer domínio de sentimentos. Nesses dias eu amo demais, brinco demais, rio à toa.

Se eu tivesse a mínima forma de prender meus sentimentos e faze-los andar em fileira, ordenados, sentindo o que quero e esquecendo aquilo que prefiro ignorar.

Mas o coração não tem dono, ninguém o domina, nem cérebro, sequer razão. O amor flui quando bem entende, com a loucura de um maremoto, tsunami vigoroso que a todos arrasta em seu caminho. Sou apenas aquela que pensa possuir a chave mas tem a sobriedade de saber que nunca a teve!

Se, por algum acaso, alguém perder tempo lendo esse texto, por gentileza, compre um pacotinho de algodão e me envie, para que eu possa estancar alguma avalanche de emoção que por ele está passando.

Não ignorem um pobre coração de poetisa!

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