Tema 199 - DAMA-DA-NOITE
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DAMA DA NOITE
Tieme Mise

Pé ante pé, Chico caminhava tentando não fazer nenhum ruído. Se Zefa acordasse, ele estava frito. Sua mulher não aceitava que ele se demorasse depois do trabalho e desta vez ele tinha realmente perdido a hora, entretido como estava com a dama da noite. Ainda mais que havia bebido dois traguinhos depois da rifa. O cheiro do álcool iria denunciá-lo. Conseguiu chegar até o banheiro sem que fosse notada a sua presença. Pela manhã, arranjari a uma boa desculpa.

Zefa roncava a sono solto. Tomou o banho e trocou a roupa, deitando-se quase sem se movimentar. Adormeceu logo em seguida, sonhando com apostas e filas enormes.

Quando acordou, Zefa já havia levantado. Tirou da pasta de lona a medalhinha que tinha ganhado na rifa e foi até a cozinha. Abraçou sua mulher por trás, suspendeu seus cabelos, colocou a medalhinha presa á corrente no seu pescoço.

Zefa, ao ver o mimo, sorriu e perguntou como quem não quer brigar:

-Por que demorou tanto, Chico?

-Fizeram uma rifa no trabalho e eu esperei pois havia comprado um bilhete. E não é que fui sorteado?

Ganhou ainda por cima um beijo. Foi cantarolando para o trabalho da Fábrica de Papel, a dois quilômetros da sua casa. Três dias depois, foi tentado novamente e sem conseguir resistir, sentou-se com a dama da noite outra vez. Seus amigos também participavam, conversando e rindo. Já estava virando um vício aqueles encontros. Sorrisos aqui, gritinhos ali, mais uns traguinhos e o tempo voando.

Zefa, inconformada com a demora do marido, vendo alguns companheiros de turno chegando perguntou ao Afonso por ele.

- Ah! O Chico, o Jardel e o Juca ficaram na mercearia da Marina, com a dama da noite.

Zefa sentiu a ira subir-lhe as entranhas. Dama da Noite, é? Ele ia ver com quantos paus se fazia uma canoa. Caminhou com passos duros até a mercearia da Marina que ficava entre a Fábrica de Papel e sua casa e entrou abruptamente.

Desta vez, porém, ao olhar para a porta, Chico prendeu a respiração. A olhar para ele, furiosa, estava Zefa que foi se aproximando devagar e de repente começou a rir. Chico ficou sem entender enquanto ela bradava a gargalhar:

- Dama da noite, dama da noite, e num golpe único derrubou o tabuleiro de damas no chão. Meio sem jeito Chico pediu desculpas a todos e segurando o braço de Zefa que ria por todo caminho, a levou para casa.

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