PORTA CERRADA
Bárbara Helena
 

Lembro bem delas. Brancas, com pequenas veias, quase transparentes, quebrando a placidez de mármore daquela alvura. Quando se fechavam sobre os teus olhos, traziam mistérios, feriam minha sensibilidade, escondendo o porto onde poderia ler o meu destino.

Tive medo também, desde sempre. Da veladura que impunham aos teus segredos. Medo do sono que encobriam, dos sonhos que vedavam, na escuridão da mente a qual não tinha acesso.

Porque marcavam o limite da permissão. O ponto onde não poderia mais percorrer o olhar revelador. Queria poder interpretar teus pensamentos na escura sinceridade dos teus olhos, mas elas sempre me recusavam, me excluíam. Por causa delas, nunca pude saber, realmente, que vida poderíamos ter tido alem do abismo.

Talvez tenham sido culpadas de tudo (não dá para saber, foram feitas para vedar e não para revelar).

Sim , eu as odiei constantemente, amei porque eram tuas, abominei porque me afastavam de ti, porque cerceavam meu caminho na direção dos teus pensamentos, da tua possibilidade de paixão, da tua impossibilidade de afeto certeiro.

Meu amor foi seta, olho aberto, rio cristalino que desvendava a alma. O teu sempre foi pálpebra cerrada, obscuro lago de águas profundas, oceano fechado de tormenta.

Foi natural que te flechasse onde me magoaste tanto.

Não queria cegar teus olhos, mas impedir que a cortina do segredo cerceasse, mais uma vez, a minha entrada no paraíso.

 

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