NOTÍCIAS TUAS
Bárbara Helena
 
 

 

Alfredo,

Resolvi te escrever depois de tanto tempo porque encontrei o Ali Baba num pagode na Lapa e ele me deu notícias tuas.

Quem diria que ias casar na Igreja, com a noiva de véu e grinalda, padre e cortejo de anjinhos. Claro que havia um bacuri na barriga e um sogro delegado na história, mas isto é detalhe maldoso. Não ri mais porque o Ali ficou chocado e eu precisava saber até o fundo a história gloriosa de tua conversão ao mundo dos homens sérios.

Com muitas cervas na cuca e algum charme da minha parte (aquele teu amigo arrasta um bonde por mim) consegui até uma foto da pobre azarada, digo da feliz consorte e do menino, o primeiro do teu prometido time de futebol.

A moça me pareceu meio cansada, Alfredo, não creio que chegue a parir nem três diabinhos como o que traz no colo. E com certeza, aquele colesterol acumulado em banha é fruto das noites bem dormidas que proporcionas à filial, enquanto as matrizes emagrecem nos lençóis do Motel Beira Mar.

Mas não existe regime melhor do que te abandonar, isto eu garanto.

Na foto sua mãe também parece mais forte, deve sugar o sangue da santa mulher, ajudada pela minha ex-cunhada, com o mesmo sorriso falso abraçando a pobre.

Confesso que tive pena. Ainda mais depois que o Ali, animado pela sugestão de uns amassos encomendados na dança, confessou que continuas com a Laurinda. Não entendi o verbo, já que tu nunca tiveste nada com a pobre senhora nossa vizinha. Mas ele ainda colocou mais umas quatro amantes na conta, talvez imaginando que o despeito me faria abrir o peito para suas mãos bobas e inúteis de falso amigo de fé.

Levou um belo fora para aprender a não trair as esposas honestas como eu e a pobrezinha da tua mulher.

Saiu ventando com mais um recado para ti.

Como você envelheceu, Alfredo! Igreja, mulher fixa e filho nunca te fizeram bem. Volta pra jogatina e pros pagodes do Enchanted porque periga de perderes o charme de camelô barato.

Na verdade, estás mais pra dono de botequim da Tijuca, o que seria a glória pra tua mãe, a cunhada, a senhora tua esposa e os bacuris.

Mas uma pena para quem já morreu de amor nos teu braços de antes.

Alfredo, sinto informar, coração, mas tu já eras.

Eu